O senhor do Fogo e o Cara do Bumerangue
Zuko, o senhor do fogo. Um homem de muitas responsabilidades e em seus ombros não apenas isso pesa, mas um passado conturbado. De maior inimigo do avatar para um de seus maiores aliados, muita coisa ocorre com alguém que percorre esse caminho. Em sua vida, assim como em seu corpo, existia uma cicatriz. Mas como um velho um dia o ensinou, não há nada de mau em deixar aqueles que nos amam nos ajudar.
O senhor do fogo estava em uma missão, precisava lutar contra uma nova facção perigosa que se erguia contra o novo avatar. O antigo avatar fora um de seus melhores amigos e agora precisava defender o novo, como um dia o antigo o salvou também.
A lotus vermelha estava em fuga pelas montanhas geladas da tribo da água do sul. O plano era simples, tinham que interceptá-los, o problema era a execução. Pelos caminhos tomados eles poderiam desembocar em duas saídas, então decidiram se separar. Por um lado iam; Tenzin, filho de Aang o antigo avatar e dobrador de ar, com Tonraq, pai de Korra a nova avatar e dobrador de água. Zuko iria para outro lado com Sokka.
As manhãs e dias tinham durações estranhas nos polos do mundo e apesar de estar acordado a quase um dia inteiro o sol ainda brilhava desde o momento que havia chego ali. Zuko vestia tradicionais roupas da nação do fogo como esperado do senhor do fogo, mesmo em face de um combate. Suas vestes vermelhas com inumeradas camadas o protegia do frio. Seu cabelo era branco e comprido, assim como sua longa barba de cabelos finos. Sua distinta cicatriz ao rosto permanecia intacta, como no dia em que tinha sido marcada. Uma lembrança.
A princípio olhou para Sokka com desconfiança. Sokka havia lutado na guerra contra seu pai e tinha sido um grande politico na cidade capital. Sabia que ele era um homem habilidoso e inteligente, porém seus melhores anos já haviam passado e, afinal de contas, não era nem ao menos um dobrador. Por fim, decidiu-se que cada dupla levaria os homens a disposição para seus postos. Dez homens e mulheres acompanhavam o senhor do fogo, sendo metade guerreiros da nação do fogo e a outra metade guardas da cidade capital, homens de Sokka e dobradores de metal.
Era de se perguntar como Sokka havia sobrevivido a tudo que passou. Ser um não dobrador fazia dele, muito provavelmente, o mais corajoso do time avatar, era realmente admirável, pensou o senhor do fogo. Não que fosse a primeira vez que Zuko percebia todas essas coisas, nas inúmeras vezes que se encontraram após o fim da guerra, sempre via essas coisas, mas a mente de um velho tendia a se repetir. Sokka era um líder nato, começava a bolar planos e rotas para a emboscada. Sokka compensava sua falta de dobra com sua mente brilhante e criativa. Mas, assim como em Zuko, os anos já pesavam. Seu cabelo não tinha mais cor em seu tradicional coque, sua pele começava a enrugar e seus ombros já se dobravam com o peso. Sua roupas azuis, cores tradicionais da tribo da água, estavam o estufando para o proteger do frio, mas era perceptível que os músculos que um dia existiam já não eram rígidos.
Plano traçado, partiram em direção de seu posto. Montaram um mini acampamento, tinham que esperar pacientemente. Zuko, curioso, se aproximou de Sokka, sempre sentiu um certo receio vindo dali, desde o primeiro momento em que tentou se aliar ao avatar o homem da tribo da água se manteve cético a possibilidade de mudança do jovem senhor do fogo. Mas lá estavam, lutando pela mesma causa, lado-a-lado.
-Sokka, como andam as coisas na cidade capital?- Perguntou o Senhor do Fogo tentando evitar o assunto que já tinha em mente. Como senhor do fogo raramente tinha que se preocupar em falar em meias palavras, mas gostava de se sentir um pessoa normal quando não falava com seus súditos ou com seus amigos.
-Han? Bem, bem. Muita burocracia, como você bem sabe.- Sokka mal olhava para Zuko enquanto ajustava seu bumerangue.
Zuko se demorou em começar a pergunta, não gostaria de ofender o amigo, mas também não queria ficar de rodeios se sabia o que gostaria de saber.
-Se me permite uma pergunta Sokka, você não se sente deslocado ou com medo de lutar ao meio de tantos dobradores por tanto tempo sem ter você mesmo uma dobra? Quero dizer, eu sei que você é habilidoso com seu bumerangue com a espada, mas lutar contra dobradores que fazem coisas incríveis deve ser um desafio- Estava curioso, nunca havia entrado nessa conversa com o amigo de longa data. Sokka olhou para Zuko e demorou a começar a falar. E quando falou, falou mais lento que o normal, como se medisse suas palavras.
-Acho que sim, quando eramos mais jovens eu sempre tentei me provar em meio a o time avatar. Hoje se olharmos para trás eu estava com os dobradores que vieram a ser os mais poderosos em cada uma de suas dobras ao meu lado. Mas eu aprendi o meu papel, aprendi que o valor de um guerreiro não está em seu poder ou em sua força, mas pelo que ele luta e como ele luta. E sei pelo que eu luto e como devo lutar. E... Bem, contar com pessoas extraordinárias me acalma as vezes, saber que tenho esse poder quando preciso de uma cobertura é coisa de se agradecer.
O senhor do fogo deixou aquilo afundar em sua mente enquanto agradecia Sokka pelas palavras e o desejava sorte. Aquelas palavras lembravam muito as de seu tio e aquilo o acalmou, percebeu que ao seu lado tinha um homem valoroso e que seria ótimo telo em meio ao combate. A fala reverbereu em sua mente fazendo-o divagar. Todos os homens tinham um papel a cumprir, hoje via que seu tio mesmo sendo um homem de bom coração o ajudou a capturar o avatar Aang mesmo sabendo que não era o certo, pois estava fazendo o papel que um pai que ensina deveria fazer. Aang sempre viveu em conflito com seu papel, com o fim da guerra todos tiverem que aprender qual eram seus novos papéis e isso causou uma crise mesmo em um mundo de paz. Mesmo hoje, as vezes, Zuko se encontra em indecisão como líder da Nação do Fogo, sente como se tivesse uma divida para com o mundo dado os atos de sua família, ao mesmo tempo que precisa buscar o melhor para o seu povo. Enquanto estava perdido em seus pensamentos um guarda veio até eles e anunciou que o inimigo se aproximava. A armadilha era em um vale, os dobradores de fogo atacariam de cima, liderados por Zuko, enquanto os dobradores de metais atacariam em baixo com Sokka.
Perceberam que o inimigo tinha tomado a mesma decisão que eles, haviam se dividido. A frente vinha P'li e Zaheer. Zaheer era um homem forte e altivo. Tinha o cabelo comprido e uma barba castanho que se estendia no cavanhaque e P'li era uma mulher alta e musculosa, Cabelos pretos presos em um rabo de cavalo justo para trás, em seu rosto comprido algo chamava atenção e assombrava aqueles que a enfrentariam. Uma espécie de terceiro olho pintado em vermelho no centro de sua testa, ele era comprido e fino com trés riscos saindo de cada lado.
O combate se iniciou, os dobradores de metal tentaram os imobilizar com suas algemas à distância, Zaheer era muito ágil e mesmo sendo pego desprevenido conseguiu desviar do metal. Já P'li não era tão graciosa, mas também reagiu rapidamente. De seu terceiro olho uma onda de calor em uma linha reta se esticou pelo ar até acertar o metal causando uma grande explosão. Logo acima os dobradores começaram a bombardear os dois com bolas de fogo que derretiam a neve e criavam poças de água que logo congelavam devido ao frio. Os dois eram guerreiros muito habilidosos e estavam em seu auge biológico. Pulavam corriam e desviavam do fogo, que era enfraquecido devido ao frio, ao mesmo tempo que lutavam com os dobradores no solo cheio de gelo. As explosões da mulher foram eventualmente direcionadas para parte de cima, onde se encontrava a artilharia de fogo e a maior vantagem do grupo. Zuko, junto de seus homens, caiu da parte de cima do vale. Seu mundo apagou por alguns segundos, não sentia nada se não a neve em cima de si, era macia, mas pesada. Percebeu que provavelmente deveria ter desmaiado por um tempo, mas mesmo ali embaixo ainda conseguia ouvir as explosões lá de fora.
Se concentrou, sabia que precisava aquecer a neve, mas ao mesmo tempo estava soterrado com outros homens, se fizessem uma explosão de chamas poderia ferir ou matar seus aliados. Isso fez que demorasse um pouco mais que o esperado para sair de baixo da neve. Quando finalmente derreteu seu caminho fora dali a batalha tinha tomado um novo rumo. Zaheer enfrentava Sokka sozinho em um canto, enquanto os dobradores de metal tentavam frear P'li em outro. Dos cinco dobradores da cidade capital iniciais somente dois continuavam de pé enfrentando a furiosa mulher que se encontrava sangrando em vários lugares do corpo, além de sua roupa chamuscada. O metal a rasgava em diversos pontos, mas várias peças de metal eram moídos em pedacinhos pelas explosões, apenas para logo em seguida serem remontados pelos dobradores em suas armadura cheias de metal.
Sokka olhou por um instante para Zuko e depois para P'li. O dobrador de fogo entendeu a mensagem, sabia o que deveria fazer, P'li era a maior ameaça, podia matar a todos. Mas sabia também que deixar Sokka sozinho era perigoso. O olhar do amigo já dizia tudo, ele sabia dos risco e precisava de Zuko em seu papel enquanto ele mesmo teria de fazer o seu. O senhor do fogo foi em direção a P'li, com seus movimentos de luta e fogo, com ajuda dos dobradores de metal, conseguiu incapacita-la com uma bola de fogo no peito e metais prendendo seu pescoço forçando sua cabeça contra a neve. Mais uns golpes dos dobradores de metal e ela estava inconsciente.
Assim que venceu sua luta se virou para ver seu aliado na luta contra Zaheer. Era inegável a superioridade de Zaheer. Sokka tentava de tudo enquanto brandia seu bumerangue, mas seu rosto já estava repleto de sangue e um de seus olhos completamente inchado que bloqueava sua visão. Zaheer saltou no ar e deu um chute no rosto de Sokka que caiu no chão e deslizou. Mesmo os dois sendo não dobradores Zaheer era jovem e forte. O senhor do fogo engajou em luta com Zaheer e viu que mesmo não possuindo nenhuma dobra o criminoso era um oponente impressionante. Ambos estava cansados da luta anterior, foi ai que Zuko percebeu a técnica do homem da tribo da água, o amigo tinha atraído Zaheer para onde a neve era mais profunda, fazendo com que Zaheer tivesse dificuldade de se aproveitar de sua agilidade e cansando muito mais rapidamente que os outros. Zuko viu o adversário tentar correr em sua direção mirando um chute em seu rosto. teria sido rápido de mais para desviar, mas os dobradores de metal afastaram o chute enviando seus projéteis. Foi a abertura que precisava, aproveitou o momento e aplicou o famoso golpe do dragão do oeste e soprou fogo em Zaheer enquanto ele estava ainda no ar. Foi o suficiente para derruba-lo e dar a chance do metal o prender de vez. Zuko e os outros dobradores conseguiram parar Zaheer, mas o mal estava feito.
Zuko correu na direção do amigo caído, colocou a cabeça dele em seu colo. O rosto estava desfigurado e inchado. Os lábios estavam em carne viva, enquanto seu olho direito estava inchado em uma bola do tamanho do punho de uma criança. O homem cuspia sangue, olhou para o senhor do fogo como se não o reconhecesse por alguns segundos- Sokka, acorde, você ficará bem. Te levaremos até a Katara e ela te recuperará, Só aguente firme. - A voz de Zuko era embriagada de tristeza, não sabia se conseguiria leva-lo de volta. Já havia perdido de mais em sua vida, sua mãe, seu tio e seu melhor amigo. Agora estava prestes a perder mais um e em seus braços. Sokka sorriu, uma última vez, levou a mão até o ombro de Zuko e disse:
-Leve o bumerangue para a Katara, por favor.
Com essas palavras deu seu último suspiro e fechou seus olhos para encontrar seu descanso final. Haviam vencido, mas a um alto custo. Os dois criminosos foram levados presos, julgados e condenados. Os dias que se passaram foram de solenidades, um enterro tradicional da tribo da água e outro para os soldados perdidos. Os filhos de Aang estavam lá e até mesmo Toph saiu de seu ostracismo e passou para se despedir do velho amigo em um momento que ninguém mais olhava. Uma estátua em frente ao centro cultural da tribo da água foi erguida em sua homenagem na Cidade Capital. Katara era inconsolável, não suportava a dor de mais uma perda.
Entretanto eventualmente tudo voltou ao normal, Zuko voltou para suas responsabilidades. Achava que não tinha mais o que aprender depois de ter passado por tudo que havia passado, mas aprendeu algo de muito valioso de onde ele mesmo não esperava encontrar mais nada, sabia agora que precisava viver até seu último momento cumprindo seu papel como líder da Nação do Fogo e como patriarca de sua família, custasse o que custar.
Walter Mansolelli Neto
First xD
ResponderExcluirExcelente. Continue com esse projeto, vai longe!!
ResponderExcluirCARACA, emocionante!
ResponderExcluir